quarta-feira, fevereiro 22, 2006

Impensável

Impensável o que me vêem contando sobre o1º ciclo do ensino básico. Impensável que pensem, acreditem e ajam em conformidade, na a resignação de quem não tem sangue vivo a correr no corpo, com o facto de haver crianças de 1ª e crianças de segunda. Impensável quando as senhores directoras dos colégios particulares, do alto dos seus saltos, arrastando as suas vocês de tias “ready made”, exigem às mães, mães, que trabalham que se desunham numa correria ciclópica, para não se esquecerem de mandar o chauffeur ao colégio trazer o cheque. A mãe acha que não percebeu bem. “O chauffeur? Cá em casa o chauffeur sou eu!!! “ Impensável, parece cartoon, a infelicidade de um bom cartoon… mas, de pequenino se torce o pepino! Nesse mesmo colégio particular foi pedido a uma criança do 1º ano que explicasse à professora em duas frases qual a importância de aprender a escrever. A menina pensou dois segundos e, sem hesitações, lá explicou: para a mãe escrever recados à empregada e cartas quando está na neve. Impensável! Eis sem dúvida duas boas razões para aprender a escrever. A mesma pergunta foi feita por uma psicóloga do ISPA a um grupo de crianças de um bairro problemático em Chelas ( Lisboa), a resposta esteve na mesma ordem de grandeza – para ler os avisos da policia quando estou sozinha em casa e os meus pais estão presos…Impensável. Gostaria de saber se posso ter a veleidade ou talvez o romantismo de sonhar que estes dois mundos à distancia de umas centenas de metros vão alguma vez coexistir pelo menos no bom senso dos professores fora das grades da burocracia em que ainda vivem as famosas Comissões de Protecção de Crianças em Risco . Talvez nessa altura me possa rir dos recados que mandam aos pais de cada vez que no dito colégio há uma epidemia de piolhos. O texto que em chegou era Ipsis verbis o seguinte: “ Meninas…os “piquenos” estão outra vez com “ aquilo”na cabeça, por favor lavem bem lavadas com shampoo próprio as cabeças dos “piquenos”…Impensável? Já não sei em que mundo vivo, se no dos cartoons, ou no da triste poeira das ruas. Se não fosse tamanho ódio a minar o riso dos povos, seria bem mais fácil viver a rir dos outros, porque a realidade, sobretudo para quem ainda tem menos de um metro de vinte de altura, dói que se farta.