quarta-feira, maio 31, 2006

Quem não tem voz

Daqui por uns anos nada nos garante que Eça de Queiroz não venha a ter razão na sua conspiração / premunição do incesto: casaremos irmãs com irmãos, filhas com pais biológicos, mães com filhos (Édipo! Cá está ele de novo, imbuído do verdadeiro choque tecnológico) quem sabe? Seremos potencialmente herdeiros de grandes fortunas oriundas de grandes dadores de esperma, talvez multimilionários a quem exigiremos um quinhão da herança ou descendentes de uma famosa top model que, por um capricho cheios de zeros, resolveu vender um maravilhoso e bem feitinho ovócito “má fortuna, amor ardente?” A questão está em saberemos ao certo a quem chamar pai e a mãe. Sabemos quem nos criou não quem nos gerou… enquanto isto a adopção continua a demorar e a demorar para além de todos os prazos aceitáveis, enquanto milhares de crianças aguardam pelo futuro nas mãos eficientes, ou nem por isso, das famosas técnicas da segurança social.

Ignorado o referendo de mais de 70 00 cidadãos nacionais nos quais eu me incluo, entrámos finalmente no negócio sujo da venda de material genético, da esperada trafulhice de bastidores, da ganância do vale tudo, ignorando o valor da família, do pai e mãe legítimos a que todos temos direito. Mais uma vez quer-se mostrar que esta é a sociedade moderna dos meninos mimados que batem o pé pelo direito que sonharam quando leram os contos de fadas e lhes prometeram um casamento longo e duradouro cheio de filhos e um “felizes para sempre” carimbado na testa. Infelizmente não é assim, nem nos cabe a nós, sábios ou apenas seres humanos desejosos de procriar, forçar a natureza a funcionar a 100% como vem no manual de instruções. Insistimos em contraria-la com leis, projectos de lei, clínicas e sabedoria cientifica, mas, de lado fica tudo o resto, embriões a quem decidimos friamente o destino, compras e vendas sabe se lá para que fim … Sabe- se lá também para que fim servem estas linhas… Para quê este meu mau feitio? Se a mim, não me ouvem, a 70 00 portugueses também não, muito menos ouviram a voz das crianças que esperam todos os dias para serem adoptadas, veremos a quem vão ouvir afinal! E decidam-se as prioridades.

Quem não tem voz

Daqui por uns anos nada nos garante que Eça de Queiroz não venha a ter razão na sua conspiração / premunição do incesto: casaremos irmãs com irmãos, filhas com pais biológicos, mães com filhos (Édipo! Cá está ele de novo, imbuído do verdadeiro choque tecnológico) quem sabe? Seremos potencialmente herdeiros de grandes fortunas oriundas de grandes dadores de esperma, talvez multimilionários a quem exigiremos um quinhão da herança ou descendentes de uma famosa top model que, por um capricho cheios de zeros, resolveu vender um maravilhoso e bem feitinho ovócito “má fortuna, amor ardente?” A questão está em saberemos ao certo a quem chamar pai e a mãe. Sabemos quem nos criou não quem nos gerou… enquanto isto a adopção continua a demorar e a demorar para além de todos os prazos aceitáveis, enquanto milhares de crianças aguardam pelo futuro nas mãos eficientes, ou nem por isso, das famosas técnicas da segurança social.

Ignorado o referendo de mais de 70 00 cidadãos nacionais nos quais eu me incluo, entrámos finalmente no negócio sujo da venda de material genético, da esperada trafulhice de bastidores, da ganância do vale tudo, ignorando o valor da família, do pai e mãe legítimos a que todos temos direito. Mais uma vez quer-se mostrar que esta é a sociedade moderna dos meninos mimados que batem o pé pelo direito que sonharam quando leram os contos de fadas e lhes prometeram um casamento longo e duradouro cheio de filhos e um “felizes para sempre” carimbado na testa. Infelizmente não é assim, nem nos cabe a nós, sábios ou apenas seres humanos desejosos de procriar, forçar a natureza a funcionar a 100% como vem no manual de instruções. Insistimos em contraria-la com leis, projectos de lei, clínicas e sabedoria cientifica, mas, de lado fica tudo o resto, embriões a quem decidimos friamente o destino, compras e vendas sabe se lá para que fim … Sabe- se lá também para que fim servem estas linhas… Para quê este meu mau feitio? Se a mim, não me ouvem, a 70 00 portugueses também não, muito menos ouviram a voz das crianças que esperam todos os dias para serem adoptadas, veremos a quem vão ouvir afinal! E decidam-se as prioridades.

quarta-feira, maio 10, 2006

Venham elas!

Será possível ver um ilustre deputado da nação a jogar à pancada com o mecânico do seu iate num bar da marina de Cascais? Tudo isto porque o dito deputado não pagou uma, duas, três facturas que o mecânico diz ter a haver e que teria já sido um castigo para que emitisse as ditas facturas pois, o deputado em questão fazia questão de receber tudo e tudo passar por baixo da mesa, sem facturas, nem papeis, nem recibos, nem nada?

Toda esta história recambulesca leva-nos a suspeitar do pior. Sem que ninguém saiba quem tem razão, se o iate navega ou não, se houve pancadaria ou não, se as notas passaram ou deveriam ter passado por vontade de uma das partes por baixo da mesa, ou não, quantas eram e de onde vieram? Ninguém sabe nem importa. A comunicação social explora e extrapola o mais que pode de maneira que todos ficamos sem saber uma única destas respostas. E aliás nada temos, nós povo que elegemos o dito deputado, com isso. Mas uma coisa é certa – é feio e muito feio assistir ou ser informado de uma cena de cowboys numa tasca em Cascais que suja ainda mais a imagem dos nossos deputados; este, segundo creio, numero 3 da lista do PSD. É feio e triste e faz-me mais uma vez ter vergonha de ser portuguesa.

Que venha o Ramalho Ortigão inspirar-se neste parlamento do século XXI e daí tecer as suas bem fadadas farpas. Venham elas que são merecidas!

quinta-feira, maio 04, 2006

Que responsabilidade social?

Numa altura em que o próprio Presidente da República invoca a inclusão social como chave para o desenvolvimento de Portugal, vale a pena reflectir sobre o papel da responsabilidade social que vai nascendo no povo português sempre capaz de dar uma “mãozinha” aos outros.

Há de facto entre as nossas empresas uma crescente vontade de ajudar ( ou de despistar lucros e assim fugir ao fisco). Há já muito que batalho pelas mais variadas causas e constato que posso agora em 2006 gabar-me de serem ínfimas ou nulas as “ tampas” que levo quando vou “ pedir” em nome de alguém que precisa. A todos muito obrigada! Queria sublinhar aqui a genuína vontade das empresas portuguesas de aderiram ao “so called” marketing social. É bom para quem precisa, muito bom mesmo! Sem todas as nossas “ madrinhas e padrinhos” das mais variadas causas, a bola gigante que queremos empurrar, não sairia do sítio.

Mas já quando falamos de voluntariado pessoal, não empresarial, a porca troce o rabo! Todos nós nos sentimos melhor com a nossa consciência quando ajudamos. A eterna alma escutista de ajudar uma velhinha a atravessar a rua e assim cumprir o juramento solene de uma boa acção por dia, no mínimo, garça entre muitos de nós. Mas, já lá vai esse tempo e a nossa alma escutista vai esmorecendo. Importa ajudar, mas menos pelos outros do que para nos sentirmos bem connosco mesmo. Há lá afinal causa mais egoísta? Será que a única verdadeira razão é a nossa própria paz interior? Tipo relaxe como quem sai de uma aula de ginástica, “que bom hoje fui útil ajudei esta e aquela instituição dei colo, dei mimo, dei de comer”? O pior é a irresponsabilidade de tudo isto. Os portugueses comprometem-se a estar das 4 às 5 por determinada causa social e lá se apresentam uma, duas, três vezes mas à quarta – “Desculpe, hoje não vai dar… tenho a minha irmã, a mãe, o papagaio, o periquito, uma compra inadiável, a costureira…” e que se amanhe a causa que conta com a pessoa x para o primeiro turno e a pessoa y para o segundo turno. “ tipo, quem dá o que tem a mais não é obrigado. E nesse “mais não é obrigado” cresce de repente um branco angustiante… aquela criança a precisar de colo, o idoso a precisar de uma consulta… mas enfim os voluntários são voluntários, por conseguinte falham e tornam a falhar… paciência o que é que se pode fazer? Nada. Responsabilizar os portugueses um por um que a causa que defendem não é a própria mas a dos outros, responsabilidade devia ser a primeira das palavras do dicionário antes de Ajuda que começa por A que devia ser a última depois de cumpridas muitas outras, o E de egoísmo, o G de gratificação e o P de pessoal. Chega de brincar ao voluntariado! Creio ser possível de facto empurrar a bola gigante a que Cavaco e Silva chamou e muito bem de inclusão social, mas para lá chegarmos, todos muito “disponíveis” somos ainda poucos.